Já são sete anos de luta do SOS na defesa da Serra da Piedade e esse tempo é significativo, pois demonstra as dificuldades de avanço da sociedade em questões que muitos evitam, por comodismo ou alienação, a enfrentar. Não inauguramos a luta, muitos vieram antes de nós, mas não como no nosso caso, coletivamente e com o apoio popular comprovado no cotidiano com manifestações de pessoas de todos os segmentos da sociedade. A câmara municipal na gestão anterior a esta, encomendou uma pesquisa onde uma das perguntas era sobre a preservação da Serra da Piedade e como resultado mais de 90% da população manifestou-se a favor da preservação e contra a atividade minerária no local, contrariando o que era exaustivamente publicado nos jornais da cidade, onde o poder público, o executivo e parte do legislativo, pregavam a favor da mineração com argumentos discutíveis e muitas vezes infundados, mesmo sabendo da sua proteção legal. Mas como a sabedoria do povo é maior do que a arrogância dos que se julgam donos do poder, a causa da Serra da Piedade e a luta do que parecia ser de um pequeno grupo de “forasteiros” estava ancorada, como os rochedos da própria Serra, no sentimento das pessoas que traziam dentro de si todo os valores simbólicos do que significa esse lugar, que ultrapassava a visão reducionista dos que viam somente o valor econômico do minério em seu sub-solo.
Para tentar explicar um pouco desse sentimento, sabendo que se trata de algo complexo que envolveria outras visões, irei me valer do conceito de topofilia desenvolvido pelo geógrafo chinês Yu-Fu Tuan onde essa relação seria “o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico”, em nosso caso, seria a relação de identidade que temos com a Serra da Piedade com tudo que representa, ecologicamente, espiritualmente, culturalmente e paisagisticamente, interiorizado de forma individual e coletiva, estabelecendo uma relação afetiva que varia na percepção de cada um, mas que traz somente uma definição, o amor a este lugar tão especial.
Como se percebe, não somos um grupo de dez ou doze, “radicais adoradores de bromélias” na defesa de uma serra, nas palavras carregadas de preconceito de um representante da mineração, como se todas as pessoas que gostam de flores não tivessem lugar nesse mundo, dominado por valores que estão levando-o à uma catástrofe sem precedentes, somos muito mais do que traz essa concepção estreita e destituída de verdade. Temos muitas pessoas nos apoiando, só estamos à frente de algo que é muito importante para todos e fazemos parte de um movimento que se amplia aqui e no mundo e que traz uma clara mensagem de mudanças urgentes nesse modelo que nos foi imposto, que destrói a natureza e o ser humano, objetivando o lucro de poucos.
A Serra da Piedade é mais do que um marco na paisagem, ela significa muito mais do que isso e por esse motivo reafirmamos nosso lema, conscientes do seu significado: Serra da Piedade, quem te ama te quer inteira...
sábado, 5 de julho de 2008
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