A militância na área cultural de Caeté deveria ser uma prerrogativa de todo artista em atuação no município, de todo amante da cultura, de todo aquele que tenha um sentimento mínimo de cidadania. Há algo mais inspirador que o acervo deixado no cancioneiro popular, na arquitetura, nas artes plásticas, no nosso barroco, em nossas manifestações culturais em geral ou no simples trejeito do cidadão comum oriundo dos costumes do nosso povo? Em Caeté, a duras penas, um verdadeiro legado ainda sobrevive no Congado, nas festas juninas, Aluá, Cavalhada, Bumba Meu Boi, Bandas musicais, corais, etc. Isso se dá mais as custas de uns poucos heróis da resistência do que de uma política cultural oficial, apesar de o município receber recursos do ICMS Cultural tornando desbotada a desculpa de que não tem dinheiro para isso. Fomentar o turismo na cidade sem dar um passo para resgatar, reformar e preservar o patrimônio histórico e cultural da cidade é o mesmo que semear em chão duro e seco. É injusto ignorar a importância cultural, histórica e turística do Bloco do Maracatu; da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, primeira de Caeté (1713); da Matriz de Nossa Senhora do Bonsucesso, obra da primeira fase do barroco mineiro (1753); de nossos chafarizes que jazem abandonados, da Serra da Piedade e seu santuário só para citar alguns bens. E que dizer dos casarões da época da Inconfidência Mineira, da Guerra dos Emboabas e que estão quase em ruínas em Caeté e Morro Vermelho onde surgiu o primeiro levante contra o quinto do ouro. A comunidade do Morro da época revoltou-se contra a coroa e sua primeira intenção de passar a cobrar um quinto de ouro por bateia, mesmo tendo sido aceito passivamente por São João Del Rei, Mariana, Ouro Preto, Sabará e Vila Nova da Rainha como em outros lugares. O cavaleiro do Imperador teve de sair de lá corrido e a revolta alastrou-se por toda a colônia fazendo o Imperador voltar atrás em mais aquela intenção opressora. Mesmo que seja pelo inconsciente coletivo ou diretamente, tudo isso inspira a nós escritores, poetas, pintores, trovadores, artesãos e artistas em geral. A militância na preservação de nossos valores culturais, seja cobrando das autoridades mais empenho, participando de conselho, conscientizando a população, ou engrossando movimentos culturais como o nosso seria apenas uma forma de gratidão pelo abundante acervo que herdamos e o engajamento na transformação da comunidade para melhor.
Portanto, como ocorre em relação a Serra da Piedade é fundamental reconhecer a importância desses outros bens e acervos da nossa comunidade e defender esse verdadeiro patrimônio que definha diante de nós, da sociedade anestesiada por ignorar a sua força quando organizada e das autoridades carentes de estratégias para o desenvolvimento social e incentiveis no tratamento dos valores culturais de um povo. Uma sociedade que não conhece e preserva sua história e cultura tornas-se uma sociedade sem identidade.
P.s. A proliferação de festas de Halowen, importadas dos paises de língua inglesa, são um desserviço à preservação da nossa cultura. O fato reforça ainda mais a urgência de um trabalho de valorização da nossa identidade cultural para combater o processo de massificação que tem o apoio dos professores de inglês que promovem essas festas todo ano.
Ronaldo Candin
segunda-feira, 14 de julho de 2008
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