sábado, 6 de setembro de 2008

morro do brumado

“A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”, esta célebre frase de Marx em seu Dezoito Brumário, comprova sua verdade quando nos deparamos outra vez com a proposta espúria de se minerar na Serra da Piedade conforme noticiado nos jornais de Belo Horizonte e Caeté com o título “Esperança para o Morro do Brumado”. A começar pela invenção de um topônimo inexistente para o lugar, “Morro do Brumado”, desconhecido pelas cartas topográficas do IBGE, pela população local e pelo IGA, órgão do governo de Minas, que atesta em documento ser tudo parte de uma só formação, a Serra da Piedade. Mas, como a prática dos que querem legitimar seus argumentos de qualquer forma se assemelham a de Goebbels, propagandista do nazismo e de Hitler, que dizia que “uma mentira dita mil vezes, torna-se uma verdade”, talvez muitas pessoas passem a acreditar que o tal morro exista, apartado da Serra da Piedade, sendo isto uma mentira. A empresa que apresenta o plano com o aval de alguns atores é subsidiária da AVG, pertencente ao grupo de Eike Batista, dono da MMX e, de Serra Azul, só tem o nome, pois a cor que lhes interessa é a cor avermelhada do minério de ferro da Serra da Piedade que busca explorar ou então somente valorizar como ativo, para depois vendê-lo com grande lucro. Dentre os atores mencionados comecemos, por exemplo, por Célio Vale que através do IEF já havia apresentado um projeto de unidade de conservação na Serra pautado pelo casuísmo ambiental, no qual as áreas de mineração eram cuidadosamente excluídas para permitir sua exploração, mesmo que isso significasse a total descaracterização paisagística do lugar, o principal fundamento de seu tombamento. Outra fala citada na reportagem é a do presidente do Instituto Estrada Real, Eberhard Hans Aichinger, que alega que “a atual chaga (no Morro do Brumado) pode prejudicar” o reconhecimento da Estrada Real pela Unesco como rota cultural. Bem poderia ele acrescentar as chagas, muito maiores, verdadeiros cancros, nas serras de Ouro Preto, Congonhas, Catas Altas, Mariana, Barão de Cocais, dentre outras e constataria que seu pleito seria inviável a partir desse ponto de vista. Quanto aos riscos de assoreamento de cursos d’água o Ministério Público já havia exigido à antecessora as devidas providências para que tal não ocorresse, sendo agora uma responsabilidade de quem assume o passivo ambiental. Sabemos que a recuperação do local, conforme a legislação vigente, é condição inerente à atividade minerária, sendo que a área já deveria estar recuperada ou em processo de recuperação e nesse caso o argumento de se precisar minerar para recuperar mostra-se inconsistente, absurdo e pior, agravando-se ainda mais o aspecto paisagístico do monumento que já se encontra afetado. Nesse caso percebe-se a irresponsabilidade do Estado que licenciou uma área constitucionalmente tombada e não acompanhou a recuperação ambiental da mesma, sendo então co-responsável pela situação.
A Serra da Piedade além de seus aspectos culturais, religiosos, paisagísticos e ambientais poderia acrescentar mais um à sua história, tornar um exemplo para as futuras gerações, como um grande Museu do Holocausto a céu aberto, do que se permitiu fazer em nome de um modelo predatório que não respeita a vida e seus bens.