Foi dada a largada para mais uma disputa eleitoral, aliás, a disputa eleitoral no Brasil começa ao final cada pleito, depois da apuração dos votos e mesmo antes da posse dos eleitos. O que podemos esperar dos atuais candidatos ao executivo para o meio ambiente e o quais são os seus projetos para a Serra da Piedade, nosso maior patrimônio. No decorrer dos anos, o que caracterizou os governos municipais foi a fragilidade da política ambiental, se é que existiu e o pouco prestígio de seus executores, à exceção do atual mandato que concentrou poderes e pastas na secretaria de meio ambiente.
Nossos candidatos são: o atual prefeito Ademir, Fernando de Castro, Luquinha e Zezé Oliveira e para uma análise inicial podemos partir do que conhecemos das ações de cada um no que diz respeito ao meio ambiente, em geral, e à Serra, especificamente.
Começando pelo atual prefeito, candidato à reeleição, durante seus quase quatro anos de governo percebemos que o meio ambiente adquiriu uma centralidade em virtude da viabilização de projetos no município, principalmente os ligados à mineração. Não que essa mediação seja desnecessária, mas sim, questiona-se a forma como se deu, desqualificando o papel de outros atores e não dando à sociedade conhecer plenamente suas reais dimensões e implicações. Ações como a desarticulação do CODEMA, democrático e participativo e sua substituição por um CODEMA “chapa branca”, a demora para aprovar as APAs municipais, unidades de conservação com zoneamento completo desde o governo anterior, um Plano Diretor pouco discutido e de certa maneira imposto e a reiterada tomada de posição a favor da mineração na Serra da Piedade, patrimônio tombado pela União, Estado e Município fizeram parte dessa política e são fatores que pesam contra o seu governo.
O discurso ambiental de Fernando de Castro ainda é desconhecido e na ocasião dos debates sobre as ameaças da mineração à Serra da Piedade não houve, em nenhum momento, posicionamento do mesmo sobre a questão. A pouca atenção que deu às demandas do meio ambiente em seus governos reduziu-se ao início das obras para tratamento de esgoto em parte do Córrego Caeté, obras de certa forma sujeitas a questionamentos pela concepção do projeto e por não atender o objetivo final, já que uma nova rede coletora está sendo construída e não vai utilizar a executada em seu governo. Apesar da sua formação acadêmica e experiência favorecerem o conhecimento da questão ambiental, emergente desde os anos 70, é necessário conhecer com mais consistência suas propostas para a área.
Luquinha apoiou a causa da Serra da Piedade em seu trabalho de assessoria ao deputado Gustavo Valadares, autor da Lei 15.178/04 que regulamentou o tombamento constitucional da Serra da Piedade. Apresentou na última eleição, da qual participou como candidato a prefeito, projetos para a área ambiental após discussões com ambientalistas do município.
Zezé Oliveira era presidente da Câmara Municipal quando a Brumafer solicitou a expansão da lavra. Seu papel foi muito importante nas audiências públicas, na lei de criação do tombamento municipal da Serra e mesmo na sua atuação junto ao SOS Serra da Piedade e CODEMA. Foi autor da lei 062/2002 que reconheceu a Serra da Piedade como símbolo de Caeté. Participou de diversas reuniões em discussões com o setor minerário, governamental, na câmara municipal, na assembléia e nos ministérios públicos estadual e federal. A expectativa é de que o seu plano de governo avance nas propostas referentes ao meio ambiente devido à sua capacidade de diálogo com os diversos setores da sociedade.
O que se espera dos candidatos e de seus futuros governos é que a temática ambiental adquira a transversalidade que lhe é própria. Além de tratar da preservação de nosso patrimônio natural para as gerações presentes e futuras, da nossa água, do lixo, da poluição e todos os outros elementos da face ecológica é necessário tratar seriamente dos problemas sociais do nosso município, que se configuram em muitos casos como problemas sócio-ambientais. Para tentar solucionar esses problemas ou antecipar futuras implicações é necessário que a visão dos governantes e também dos vereadores seja local e também global, sabendo-se que o processo de globalização traz conseqüências em todos os níveis, como por exemplo, um grande empreendedor com projetos no município está articulado em níveis mais amplos do mercado mundial, fazendo parte de uma lógica, sabidamente, geradora de desigualdades e exclusões. Para isso precisamos de políticas públicas, em todas as áreas, da saúde à educação, claras e democráticas com a plena participação da comunidade, participação essa que não pode ficar somente no plano da retórica, para construir realmente uma cidade mais justa, humana e ambientalmente saudável.
terça-feira, 29 de julho de 2008
segunda-feira, 14 de julho de 2008
PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL – HERANÇA E ENGAJAMENTO
A militância na área cultural de Caeté deveria ser uma prerrogativa de todo artista em atuação no município, de todo amante da cultura, de todo aquele que tenha um sentimento mínimo de cidadania. Há algo mais inspirador que o acervo deixado no cancioneiro popular, na arquitetura, nas artes plásticas, no nosso barroco, em nossas manifestações culturais em geral ou no simples trejeito do cidadão comum oriundo dos costumes do nosso povo? Em Caeté, a duras penas, um verdadeiro legado ainda sobrevive no Congado, nas festas juninas, Aluá, Cavalhada, Bumba Meu Boi, Bandas musicais, corais, etc. Isso se dá mais as custas de uns poucos heróis da resistência do que de uma política cultural oficial, apesar de o município receber recursos do ICMS Cultural tornando desbotada a desculpa de que não tem dinheiro para isso. Fomentar o turismo na cidade sem dar um passo para resgatar, reformar e preservar o patrimônio histórico e cultural da cidade é o mesmo que semear em chão duro e seco. É injusto ignorar a importância cultural, histórica e turística do Bloco do Maracatu; da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, primeira de Caeté (1713); da Matriz de Nossa Senhora do Bonsucesso, obra da primeira fase do barroco mineiro (1753); de nossos chafarizes que jazem abandonados, da Serra da Piedade e seu santuário só para citar alguns bens. E que dizer dos casarões da época da Inconfidência Mineira, da Guerra dos Emboabas e que estão quase em ruínas em Caeté e Morro Vermelho onde surgiu o primeiro levante contra o quinto do ouro. A comunidade do Morro da época revoltou-se contra a coroa e sua primeira intenção de passar a cobrar um quinto de ouro por bateia, mesmo tendo sido aceito passivamente por São João Del Rei, Mariana, Ouro Preto, Sabará e Vila Nova da Rainha como em outros lugares. O cavaleiro do Imperador teve de sair de lá corrido e a revolta alastrou-se por toda a colônia fazendo o Imperador voltar atrás em mais aquela intenção opressora. Mesmo que seja pelo inconsciente coletivo ou diretamente, tudo isso inspira a nós escritores, poetas, pintores, trovadores, artesãos e artistas em geral. A militância na preservação de nossos valores culturais, seja cobrando das autoridades mais empenho, participando de conselho, conscientizando a população, ou engrossando movimentos culturais como o nosso seria apenas uma forma de gratidão pelo abundante acervo que herdamos e o engajamento na transformação da comunidade para melhor.
Portanto, como ocorre em relação a Serra da Piedade é fundamental reconhecer a importância desses outros bens e acervos da nossa comunidade e defender esse verdadeiro patrimônio que definha diante de nós, da sociedade anestesiada por ignorar a sua força quando organizada e das autoridades carentes de estratégias para o desenvolvimento social e incentiveis no tratamento dos valores culturais de um povo. Uma sociedade que não conhece e preserva sua história e cultura tornas-se uma sociedade sem identidade.
P.s. A proliferação de festas de Halowen, importadas dos paises de língua inglesa, são um desserviço à preservação da nossa cultura. O fato reforça ainda mais a urgência de um trabalho de valorização da nossa identidade cultural para combater o processo de massificação que tem o apoio dos professores de inglês que promovem essas festas todo ano.
Ronaldo Candin
Portanto, como ocorre em relação a Serra da Piedade é fundamental reconhecer a importância desses outros bens e acervos da nossa comunidade e defender esse verdadeiro patrimônio que definha diante de nós, da sociedade anestesiada por ignorar a sua força quando organizada e das autoridades carentes de estratégias para o desenvolvimento social e incentiveis no tratamento dos valores culturais de um povo. Uma sociedade que não conhece e preserva sua história e cultura tornas-se uma sociedade sem identidade.
P.s. A proliferação de festas de Halowen, importadas dos paises de língua inglesa, são um desserviço à preservação da nossa cultura. O fato reforça ainda mais a urgência de um trabalho de valorização da nossa identidade cultural para combater o processo de massificação que tem o apoio dos professores de inglês que promovem essas festas todo ano.
Ronaldo Candin
sábado, 5 de julho de 2008
Quem te ama te quer inteira...
Já são sete anos de luta do SOS na defesa da Serra da Piedade e esse tempo é significativo, pois demonstra as dificuldades de avanço da sociedade em questões que muitos evitam, por comodismo ou alienação, a enfrentar. Não inauguramos a luta, muitos vieram antes de nós, mas não como no nosso caso, coletivamente e com o apoio popular comprovado no cotidiano com manifestações de pessoas de todos os segmentos da sociedade. A câmara municipal na gestão anterior a esta, encomendou uma pesquisa onde uma das perguntas era sobre a preservação da Serra da Piedade e como resultado mais de 90% da população manifestou-se a favor da preservação e contra a atividade minerária no local, contrariando o que era exaustivamente publicado nos jornais da cidade, onde o poder público, o executivo e parte do legislativo, pregavam a favor da mineração com argumentos discutíveis e muitas vezes infundados, mesmo sabendo da sua proteção legal. Mas como a sabedoria do povo é maior do que a arrogância dos que se julgam donos do poder, a causa da Serra da Piedade e a luta do que parecia ser de um pequeno grupo de “forasteiros” estava ancorada, como os rochedos da própria Serra, no sentimento das pessoas que traziam dentro de si todo os valores simbólicos do que significa esse lugar, que ultrapassava a visão reducionista dos que viam somente o valor econômico do minério em seu sub-solo.
Para tentar explicar um pouco desse sentimento, sabendo que se trata de algo complexo que envolveria outras visões, irei me valer do conceito de topofilia desenvolvido pelo geógrafo chinês Yu-Fu Tuan onde essa relação seria “o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico”, em nosso caso, seria a relação de identidade que temos com a Serra da Piedade com tudo que representa, ecologicamente, espiritualmente, culturalmente e paisagisticamente, interiorizado de forma individual e coletiva, estabelecendo uma relação afetiva que varia na percepção de cada um, mas que traz somente uma definição, o amor a este lugar tão especial.
Como se percebe, não somos um grupo de dez ou doze, “radicais adoradores de bromélias” na defesa de uma serra, nas palavras carregadas de preconceito de um representante da mineração, como se todas as pessoas que gostam de flores não tivessem lugar nesse mundo, dominado por valores que estão levando-o à uma catástrofe sem precedentes, somos muito mais do que traz essa concepção estreita e destituída de verdade. Temos muitas pessoas nos apoiando, só estamos à frente de algo que é muito importante para todos e fazemos parte de um movimento que se amplia aqui e no mundo e que traz uma clara mensagem de mudanças urgentes nesse modelo que nos foi imposto, que destrói a natureza e o ser humano, objetivando o lucro de poucos.
A Serra da Piedade é mais do que um marco na paisagem, ela significa muito mais do que isso e por esse motivo reafirmamos nosso lema, conscientes do seu significado: Serra da Piedade, quem te ama te quer inteira...
Para tentar explicar um pouco desse sentimento, sabendo que se trata de algo complexo que envolveria outras visões, irei me valer do conceito de topofilia desenvolvido pelo geógrafo chinês Yu-Fu Tuan onde essa relação seria “o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico”, em nosso caso, seria a relação de identidade que temos com a Serra da Piedade com tudo que representa, ecologicamente, espiritualmente, culturalmente e paisagisticamente, interiorizado de forma individual e coletiva, estabelecendo uma relação afetiva que varia na percepção de cada um, mas que traz somente uma definição, o amor a este lugar tão especial.
Como se percebe, não somos um grupo de dez ou doze, “radicais adoradores de bromélias” na defesa de uma serra, nas palavras carregadas de preconceito de um representante da mineração, como se todas as pessoas que gostam de flores não tivessem lugar nesse mundo, dominado por valores que estão levando-o à uma catástrofe sem precedentes, somos muito mais do que traz essa concepção estreita e destituída de verdade. Temos muitas pessoas nos apoiando, só estamos à frente de algo que é muito importante para todos e fazemos parte de um movimento que se amplia aqui e no mundo e que traz uma clara mensagem de mudanças urgentes nesse modelo que nos foi imposto, que destrói a natureza e o ser humano, objetivando o lucro de poucos.
A Serra da Piedade é mais do que um marco na paisagem, ela significa muito mais do que isso e por esse motivo reafirmamos nosso lema, conscientes do seu significado: Serra da Piedade, quem te ama te quer inteira...
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